.

.

17 de janeiro de 2013

E quando as saudades apertam ao contrário

Começo a a ver as coisas por aqui com aquele sentimento de despedida. Viver em Ulm tem aspetos muito positivos, nunca me vou esquecer do sentimento de liberdade e do sentimento de segurança que tive quando vim para cá. Sentir-me segura no meio da rua, mesmo estando sozinha, às 5:00 da noite é uma sensação de liberdade e segurança que eu poderia dizer que não se pagam, mas pagam-se. Pagam-se com o dinheiro dos contribuintes, com educação, escolhas acertadas e bons estadistas; pagam-se também com um interesse genuíno pelo bem comum e com a vontade e práticas cívicas de cidadãos interessados, e conscientes de que para a roda girar é preciso que todas as engrenagens estejam bem oleadas. Sentir também que as aparências de pouco ou nada servem, foi outra forma de perceber essa liberdade que pensamos ter e não temos. A palavra liberdade nunca teve tanto sentido como agora, nem nunca teve tantas vertentes como cá. Não sei o quanto sentirei falta desta palavra, mas sei que me vou lembrar muito dela.
Hoje dei-me conta de que sentirei a falta desta cidade branca, não tanto quanto sinto falta do mar e de lhe ver o "pôr do sol", mas o suficiente para sentir aquele vazio no coração, a que tanto me fui habituando. Quando saí da aula de ballet, passada 1 hora e 45 minutos de lá ter entrado, dei com as ruas e os passeios, os carros e os bancos de jardim brancos e imaculados. Sentei-me na bicicleta e pedalei, como quando pegava nos caracóis que atravessavam o passeio e os punha no muro do terreno ao lado para que ninguém os calcasse, buscando não marcar o caminho imaculado pela neve, seguindo os passos de alguém ou o trilho de outra bicicleta. Talvez não percebam o que vos quero dizer, ou talvez sim, mas sair e ver a cidade branca, sem limites e sem contornos, é quase como uma salvação. Dá-nos a sensação que temos outra oportunidade para viver, como se os erros fossem apagados e a natureza começasse ali, do zero.
Também sei que vou sentir falta disto, de poder decidir deitar-me mais tarde porque sinto uma vontade enorme de escrever no blogue. Porque quando há saudade o que fica não é ponto final, são as vírgulas. 

2 comentários:

Calíope disse...

Vais-te embora?
Ainda agora ao chegar a casa pensei a mesma coisa: não há fronteira entre passeio e estrada... É muito estranho, pensei eu. Tu deste à minha estranheza um embrulho muito mais bonito!

Pimpas disse...

Sim Calíope, lá para meio do ano. Mas nada me garante que mevá habituar. Ainda acho a neve fascinante e pareçonuma miúda sempre que neva. :)