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5 de setembro de 2013

gonçalo m. tavares


OS GRUPOS

Mas é estranho isto, e receio o que a vida vai
Fazendo de mim sem a minha autorização.
Com 18 anos adorava mesas grandes, divertia-me,
Via no grupo movimentos e excitações a que
Não chegava sozinho. Como se a alegria entre 
Vinte pessoas fosse uma língua que um ser vivo
Isolado não conseguisse formular.
Não morrerei ignorando essa língua, mas agora
Fujo dela: cinco pessoas numa mesa assustam-me
Como um assalto: dá-me!, sinto que me dizem,
E a expectativa dos outros em relação à minha frase, 
Ao meu silêncio ou à minha imobilidade,
Encosta o seu frio à minha camisa, 
Como o punhal discreto de um bom assaltante. 
Não gosto de grupos, de aglomerações intermédias
Entre a amizade e o exército. A amizade faz-se de um
Para um, por vezes de dois para um; em matéria de sinceridade
O número quatro assusta-me.
Gonçalo M. Tavares

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