.

.

28 de julho de 2011

Ter ou não fígado, eis a questão!

A mim disseram-me, "tem mau fígado". Como até então não conhecia nada da origem desta expressão, não percebi. Se fosse agora, teria dito: Mau fígado tem você, ó pascácio...

          O fígado é um dos órgãos mais complexos e importantes do corpo humano. Responsável por mais de quatrocentas funções diárias para manter o organismo saudável. Dessas funções, uma delas é produzir a bílis. 


Pequeno resumo explicativo

          Com relação a bílis, os antigos admitiam ser ela um dos quatro humores. Segundo esse entendimento, o sangue é armazenado no fígado e levado ao coração, onde se aquece, sendo considerado quente e úmido; a fleuma, que compreende todas as secreções mucosas, provém do cérebro e é fria e úmida por natureza; a bile amarela é secretada pelo fígado e é quente e seca, enquanto a bile negra é produzida no baço e no estômago e é de natureza fria e seca. Essa doutrina foi formulada por Hipócrates e encaixava-se perfeitamente na concepção filosófica da estrutura do universo. Estabeleceu-se uma correspondência entre os quatro humores com os quatro elementos (terra, ar, fogo e água), com as quatro qualidades (frio, quente, seco e úmido) e com as quatro estações do ano (inverno, primavera, verão e outono). 

          O estado de saúde dependeria da exata proporção e da perfeita mistura dos quatro humores, que poderiam alterar-se por ação de causas externas ou internas. O excesso ou deficiência de qualquer dos humores, assim como o seu isolamento ou mistura inadequada, causariam as doenças com o seu cortejo sintomático. A recuperação do enfermo dependeria da eliminação do humor excedente ou alterado, podendo o médico auxiliar as forças curativas da Natureza retirando do corpo o humor em excesso ou defeituoso, a fim de restaurar o equilíbrio. Com esta finalidade, surgiram os quatro principais métodos terapêuticos: sangria, purgativos, eméticos e clisteres. 

          Galeno (130 - 200), médico grego, revitalizou a doutrina dos humores e ressaltou a importância dos quatro temperamentos, conforme o predomínio de um dos quatro humores: sangüíneo, fleumático, colérico e melancólico (sendo colérico quem tenha mais bile amarela, e melancólico o de mais bile negra). Transfere-se, desse modo, para o comportamentos das pessoas, a noção de equilíbrio e harmonia dos humores. As expressões "bom humor", "mau humor", "bem humorado", "mal humorado" são reminiscências dos conceitos de eucrasia (boa constituição, robustez) e discrasia (má constituição, mau temperamento).. 

          Dentre a classe mamífera, o fígado é o único órgão capaz de se regenerar. A lenda de Prometeu, da mitologia grega, revela que desde a antiguidade o fenômeno regenerativo hepático era conhecido. Por ter roubado dos deuses do Olimpo o segredo do fogo e o revelado aos homens, Prometeu foi castigado por Zeus a ter seu fígado diariamente devorado por uma águia. No entanto, durante a noite, o fígado de Prometeu regenerava-se, provendo à águia incessante alimentação, e conduzindo Prometeu à interminável tortura. Recentes estudos têm demonstrado que a capacidade regenerativa hepática é quase que ilimitada, validando a antiga fábula de Prometeu. 

          Foram todas essas características extraordinárias que deram ao fígado o sentido figurado de coragem, valor, índole, energia, disposição ao trabalho, destemor, inclinação e caráter, entre outros. Por isso se diz que bom ou mau fígado predispõe o temperamento benévolo ou maligno, e que o adversário irredutível é inimigo fidagal. Ou então que desopilar o fígado é produzir alegria e bem-estar. 

          Daí que quando se diz que uma pessoa tem fígado, expressamos nossa opinião de que ela é persistente e combativa, resistente e produtiva, corajosa e animada. Resumindo, um sujeito que merece ser encarado com respeito e admiração.


http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=314983

1 comentário:

vitor almeida disse...

Estou totalmente de acordo contigo.

"O FIGADO AO PODER"

BEIJINHOS.